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Vida a Dois

Atualizado: 10 de dez. de 2021

Existem várias fases na vida a dois e nem sempre tudo é fácil. É um caminho que se constrói diariamente.

Há uns meses li um texto, de um autor americano (não me recordo do nome), que falava sobre a dificuldade de gerir um casamento quando temos filhos pequenos e sobre a alta taxa de divórcios nestas situações. Ele escrevia directamente para a mulher e dizia-lhe que este era o verdadeiro desafio da vida deles, a sua prova de fogo. Dizia-lhe que esta era a parte mais difícil e pedia-lhe para ela não desistir, para vencerem mais um obstáculo juntos. Achei o texto profundamente belo. Nunca tinha pensado nas coisas assim.


Ter crianças pequenas, gerir um emprego, uma casa, todas as rotinas e ainda um casamento, não é nada fácil. É coisa para super-heróis. Conheço várias pessoas, e incluo-me nelas, que passou, no seu casamento, fases péssimas depois de ter filhos. Li este texto ao meu marido e no fim ele abraçou-me e disse que era de facto o ponto alto da montanha-russa. Já subimos até aqui, ao ponto mais alto, não vamos agora saltar. Vamos esperar que o carrinho comece a descer.


Ter um filho com uma neurodiversidade ou uma deficiência, torna ainda mais exigente esta gestão diária. O grau de exaustão do casal, pode, por norma, ser maior, o que faz diminuir o nosso grau de tolerância, paciência, disponibilidade e que por sua vez faz aumentar as discussões e a distância. Se temos um filho que necessita muito do toque, existe uma maior probabilidade de, quando o nosso cônjuge, tenta uma aproximação mais física, o nosso corpo que está cansado comunique com o cérebro e que nos envie um sinal de afastamento, de que precisamos agora de estar connosco, de não sentir esse toque externo. Esta é talvez uma das muitas questões que podem contribuir para o afastamento de um casal.


O facto de muitas vezes, haver negação no diagnóstico por parte de um dos pais, também não vem ajudar. Talvez os dois não concordem na forma como devem agir com a criança, não acreditem na mesma educação ou outro sem fim possibilidades.

Depois há também um ponto muito importante, o tempo que se passa a dois. Tenha-se um ou cinco filhos, este tempo é essencial. Afinal o casamento é o nosso primeiro filho. Mas deixar as crianças com alguém da nossa confiança como os avós, uma babysitter, ou até um amigo próximo que se disponibiliza sempre para ajudar, nem sempre é fácil, mas é, na minha opinião, um pouco mais complicado quando se tem uma criança com neurodiversidade.



Vou dar o meu exemplo, eu sei que é mais fácil arranjar quem cuide da minha filha por umas horas, para eu poder descansar, do que arranjar alguém que fique com o meu filho. Porquê? Talvez por medo, medo de ambas as partes. De quem fica, por ter medo de não estar capaz, de não saber lidar, de não saber como agir, de não conseguir reconhecer alguns sinais de que ele possa estar a sentir-se menos bem, mas também medo meu, exactamente pelos mesmos motivos. Então no fim do dia acabamos por pensar “deixa lá, amanhã eu vou, amanhã nós vamos”.

Mas o amanhã às vezes não chega.


Há estudos que dizem que as taxas de divórcios, em famílias com crianças com Perturbação do Espectro do Autismo, são superiores a 80%. Isto não vos faz pensar?

Precisamos de cuidar de nós e de quem está ao nosso lado. E no meio do caos diário, conseguir encontrar um momento, mesmo que pequeno, para respirar e sermos só aquilo que éramos no início, antes de toda esta viagem começar.


Rita




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